As técnicas de defesa pessoal estão entre as principais estratégias disseminadas para que mulheres consigam se proteger em contextos de ameaças e ataques físicos. O tema voltou a ganhar destaque nos últimos dias após a jovem Juliana Soares ser vítima de uma tentativa de feminicídio pelo ex-namorado, Igor Eduardo Pereira Cabral, dentro do elevador de um condomínio na zona Sul de Natal. Em entrevista à Jovem Pan News Natal, nesta quarta-feira (30), o especialista em defesa pessoal Nino Bezerra destacou a importância da prevenção em situações de violência e desmistificou conteúdos populares sobre defesa.Play Video
Faixa preta em jiu-jitsu e muay thai, Nino Bezerra afirmou que Juliana adotou os procedimentos básicos diante da agressão. Isso porque ela se encolheu para proteger seus órgãos vitais e tentou proteger o rosto, sendo o máximo de ação possível no momento em que estava no elevador.
Segundo o especialista, a vítima foi surpreendida e perdeu o chamado “efeito surpresa” — elemento essencial para qualquer reação. “Ela [Juliana] perdeu o efeito surpresa porque foi surpreendida com um golpe. Houve um lapso temporal em que, em 35 segundos, foram desferidos [pelo menos] outros 60 socos. Isso mostra que ela não sabia o que estava acontecendo, pois o racional dela não chegou a cogitar a possibilidade de pensar no que fazer”, observou.
Nino também questionou a aplicabilidade de técnicas divulgadas nas redes sociais, como a apresentada pela pentacampeã mundial de jiu-jitsu Kyra Gracie, que gravou um vídeo sobre defesa pessoal em alusão ao caso. De acordo com ele, o movimento mostrado por Kyra não seria possível na posição em que Juliana estava. O motivo é que a técnica exige que a vítima esteja com as costas no chão e as duas mãos no rosto, o que não era o caso.
Embora reconheça a boa intenção da publicação, o especialista lembra que Kyra é uma atleta de elite, treinada para reagir em contextos de ameaça. Assim como no vídeo dela, de acordo com ele, vários outros conteúdos sobre defesa pessoal fogem da realidade.
Defesa pessoal em ambientes domésticos e urbanos
Além de destacar mitos, Nino Bezerra reforçou a importância de distinguir as estratégias de defesa em ambientes domésticos e urbanos. “Tenho o costume de dizer que 98% da defesa pessoal é Deus e 2% é a prevenção”, afirmou.
Para o contexto doméstico, ele recomenda o uso do protocolo VIDA — sigla para ver, identificar, decidir e agir. Segundo Nino, reconhecer que se está em risco pode ser mais difícil do que perceber situações de violência alheias. Entre os sinais de que um agressor pode partir para a violência física, ele cita:
- Levantar o tom de voz durante discussões;
- Puxar o braço da companheira quando ela tenta se esquivar (o que já configura agressão física);
- Proferir ofensas verbais;
- Praticar violência psicológica.
Em espaços públicos, como festas, a principal estratégia é a prevenção. Nino orienta que mulheres evitem ir sozinhas ao banheiro, não deixem o copo de bebida na mesa e sempre demonstrem que estão acompanhadas.
Já em situações de risco iminente, tanto em locais públicos quanto privados, o especialista recomenda gritar “fogo” em vez de “socorro”. “Quando você grita ‘socorro’, as pessoas também se assustam. A curiosidade de ver um incêndio atrai muito mais gente do que a prestatividade de acolher uma vítima”, alerta.
TRIBUNA DO NORTE
